Cáries Precoces de Infância - Uma Revisão Bibliográfica.
COSME, P.; MARQUES, P. F.; Cáries Precoces de Infância - Uma Revisão Bibliográfica. Revista Portuguesa de Estomatologia, Medicina Dentária e Cirurgia Maxilofacial. Volume 46, N°2, 2005
“As cáries precoces de infância correspondem a uma entidade clínica cujo mecanismo histopatológico éjá conhecido, mas no qual os factores ambientais e do hospedeiro levam a que a progressão do processo carioso seja anormalmente rápida e siga um padrão bastante característico. No sentido de facilitar o diagnóstico desta patologia e de interpretar correctamente estudos retrospectivos, é fundamental que o diagnóstico e definição sejam consensuais e universais.” (P. 109)
“Os primeiros dentes afectados são os incisivos superiores decíduos, logo após a sua erupção, que ocorre geralmente entre os 12 e os 24 meses (1). Os molares decíduos e caninos são afectados imediatamente após a erupção ou logo a seguir aos incisivos. Se a doença evoluir sem tratamento, todos os restantes dentes decíduos são afectados antes dos 4 anos.” (P. 110)
“Durante a sua evolução normal, é de realçar que frequentemente são envolvidas superfícies dentárias geralmente pouco afectadas por lesões de cárie, como sejam as superfícies vestibulares e linguais dos dentes antero-superiores.” (P. 110)
“Em 1963 Keyes (7) definiu esquematicamente os quatro principais factores etiológicos envolvidos no aparecimento e progressão desta patologia. Basicamente, pode-se resumir que microrganismos cariogénicos, alojados numa superfície dentária susceptível, na presença do substrato adequado necessitam de um pequeno intervalo de tempo até ao desenvolvimento do processo carioso.” (P. 110)
“o Streptococcus mutans é o microrganismo cariogénico mais comum(7,9). Crianças com CPI apresentam níveis de S. mutans cerca de 100 vezes superior ao de crianças sem cáries (10), sendo que nestes casos os estudos comprovam que as colónias formadas apresentam maior adesividade e virulência.” (P. 110)
“E como é a criança contaminada? Comprovadamente, a transmissão dos microrganismos é efectuada através da saliva, principalmente de contacto directo com o patogénio por intermédio de beijos, mãos ou pele contaminadas ou de alimentos manuseados por indivíduos contaminados.” (P.110)
“Essa contaminação é principalmente efectuada através da mãe ou ama, que lide com a criança e seja responsável pela alimentação; foi comprovado que os microrganismos que contaminam a criança são na grande maioria das vezes geneticamente semelhantes aos da mãe, o que é consistente com esta relação (14). Estudos indicam que também o leite materno pode ser um veículo de contaminação embora ainda não esteja totalmente comprovado (10,39). De qualquer modo, a via de contaminação deste microrganismo é rápida e muito difícil de controlar ou evitar.” (P.110)
“Existem características adquiridas ou congénitas, da criança em geral e da dentição decídua em particular, que aumentam a susceptibilidade do dente à cárie.” (P. 110)
“A saliva apresenta vários tipos de funções anticariogénicas, como sejam a lubrificação dos alimentos e a sua remoção mecânica dos dentes, tamponamento de ácidos e inibição de adesão da placa ao dente.” (P.111)
“Deste modo, tudo o que diminua o fluxo salivar aumenta a susceptibilidade dos dentes à cárie, o que ocorre na maioria das patologias sistémicas da infância.” (P. 111)
“O substrato de eleição para a microflora oral são os hidratos de carbono principalmente a sacarose, a glicose e a frutose.” (P.111)
“No desenvolvimento da cárie, o mais importante não é a quantidade absoluta de açúcares ingeridos mas sim a consistência dos açúcares e a frequência do seu consumo (22).” (P.111)
“Todos os factores que aumentem o tempo de duração do contacto dos microrganismos cariogénicos com a superfície dentária aumentam a probabilidade de desmineralização da superfície dentária e de desenvolvimento da cárie.” (P.111)
“A amamentação materna apresenta cariogenecidade ainda não totalmente esclarecida.” (P.111)
“Assim, a ingestão de pequenas quantidades de açúcares várias vezes ao dia deve ser evitada, uma vez que isso leva à manutenção do pH oral em valores críticos, ou seja, abaixo do pH 3, durante largos períodos de tempo. Por isso mesmo é recomendada a ingestão de alimentos ricos em açúcares imediatamente após as refeições, seguidos de correcta higiene oral.” (P.111)
“importa referir quais são os factores que podem indicar um maior risco potencial de contrair esta doença, no sentido de se mais facilmente poder promover factores de prevenção.” (P.111)
“É também importante acrescentar que se constata uma aparente predisposição genética hereditária materna para maior susceptibilidade a CPI (15). Isso é justificado pelo facto de os defeitos estruturais congénitos do esmalte, as alterações salivares e imunológicas que aumentam a predisposição para CPI serem herdados geneticamente transmitidos de mãe para filho.” (P.111-112)
“A severidade das complicações decorrentes desta patologia, associada à óbvia complexidade dos tratamentos, especialmente tendo em conta a idade dos doentes, faz com que a prevenção seja o melhor modo de conseguir controlar esta doença.” (P. 112)
“Em crianças, a higiene oral deverá começar a ser efectuada regularmente a partir da erupção dos primeiros dentes, por volta dos 6 meses.” (P.113)
“No sentido de prevenir a ocorrência desta patologia, é recomendado que as crianças abandonem o biberão até aos 12 meses, devendo ainda tentar evitar-se que adormeçam logo após a amamentação, de modo que os alimentos não estagnem em redor dos dentes durante o período do sono.” (P.113)
“É de realçar ainda a especial atenção que deve ser atribuída à medicação, especialmente a que é ingerida à noite e sob a forma de xarope ou suspensão oral, uma vez que a grande maioria destes contêm elevadas concentrações de açúcar.” (P.113)
“A prescrição de flúor deverá sempre ser avaliada pelo médico dentista, a partir da primeira consulta, sendo a suplementação recomendada sempre que considerada necessária, seja tópica ou sistémica. A dosagem deverá ser adequada à idade e peso da criança, precavendo sempre os riscos de toxicidade do flúor.” (P.113)
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