sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tarefa 3 - Fichamento 3

FATORES DETERMINANTES NA EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSIBILIDADE DA DOENÇA CÁRIE

Moreira M, Poletto MM, Vicente VA. FATORES DETERMINANTES NA EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSIBILIDADE DA DOENÇA CÁRIE. Revista Odonto Ciência – Fac. Odonto/PUCRS, v. 22, n. 56, abr./jun. 2007 


O objetivo desse artigo é demonstrar a evolução das técnicas no estudo da epidemiologia e transmissibilidade da bactéria Streptococcus mutans, que é reconhecida como a causa dominante de cárie dental em todo mundo, e considerada a mais cariogênica.
Devido às propriedades cariogênicas do S. mutans, vários estudos têm tentado identificar a fonte e sua transmissão entre humanos. Os métodos incluem resistência a bacteriocina, sorotipagem, análise com enzimas de restrição, PCR e ribotipagem.  As técnicas aplicadas na caracterização da bactéria oral têm ficado muito mais sofisticadas. A análise de DNA baseada em traços do genótipo oferece uma rápida e real identificação da bactéria, comparada com métodos baseados em caracterização do fenótipo, sendo que a genotipagem é a técnica mais sensível e reprodutível entre estes métodos, para o estudo epidemiológico e da transmissibilidade do S. mutans.
Estudos que procuram comprovar a transmissibilidade do S. mutans vêm sendo realizado há décadas. Houve estudos em que coletaram placa da superfície dental e dentina cariada de dez pacientes de quatro a nove anos que apresentavam cárie ativa. Analisando amostras fecais, verificaram que os mesmos abrigavam isolados de S. mutans também nas fezes. O material foi comparado, tendo como resultado 66% de prevalência de um único tipo. Ocasionalmente o mesmo sorotipo estava presente nas amostras dentais e fecais. Sorotipos raros foram encontrados em dois sujeitos, e também em seus irmãos e mães, sugerindo transmissão intrafamiliar da bactéria.
Outro estudo realizado na mesma época foi o isolamento de S. mutans na saliva de idosos. Foi realizada a contagem de unidades formadoras de colônias por mililitro de saliva, em 169 indivíduos de 60 a 87 anos. Destes 40% eram edêntulos, apresentando prótese superior e inferior. A conclusão foi que indivíduos idosos, tanto com dentição natural, quanto com prótese dental, podem ser uma reserva não reconhecida de S. mutans. Um potencial grau de variação na virulência e cariogenicidade foi observado entre diferentes linhagens. Desta forma concluiu-se que idosos podem servir juntamente com pais e irmãos como vetores na transmissão inicial de microrganismos para bebês.
Um estudo isolou linhagens de S. mutans de 58 indivíduos, provenientes de cinco famílias americanas, o DNA das bactérias foi extraído, e submetido a enzimas de restrição EcoRI e/ou HindIII, verificando-se um padrão único, exceto para isolados de mesmo indivíduo ou da mesma família. A análise de indivíduos de famílias diferentes foi sempre heterogênea. Evidenciaram-se freqüentes infecções intrafamiliar, entre cônjuges e fora da família.
No Brasil, uma pesquisa mostrou que cinqüenta crianças brasileiras e suas mães foram analisadas, através da coleta de saliva não estimulada, isolamento e identificação bioquímica para estreptococos do grupo mutans. Verificou-se que 62% dos pares mãe e filho albergavam as mesmas espécies.
Famílias suecas e chinesas, com um primeiro filho de três anos foram estudadas, através de isolamento de S. mutans obtido da placa bacteriana dental e análise do DNA pelos métodos REA e RAPD. Os indivíduos foram re-examinados dois e cinco anos depois. O S. mutans foi detectado em 11 das 25 crianças suecas, indicando que mães e indivíduos fora da família eram as fontes de contaminação. A distribuição do genótipo nas famílias chinesas, apontou para o fato que os pais tiveram um papel mais pronunciado como fonte de S. mutans, comparado com as famílias suecas. A distribuição intrafamiliar do S. mutans pareceu ser diferente nos dois grupos de famílias com diferentes contextos culturais.
A identificação da fonte de transmissão do S. mutans é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de prevenção da cárie dental. Hábitos individuais, familiares e até culturais como freqüência e consumo de carboidratos, ou higienização bucal estariam regulando fortemente o estabelecimento e desenvolvimento do potencial cariogênico da bactéria.
Sugere-se que a transmissão da bactéria entre indivíduos pode se dar essencialmente devido a fatores inter-relacionados como afinidade bacteriana e numero de unidades de colônia formadas, capazes de promover o ataque. Estes fatores biológicos, bem como relacionados a hábitos e estilo de vida podem ser diferentes em várias populações e países.

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